Os Correios, por meio desta emissão conjunta de selos entre Brasil e Sérvia, da Série Relações Diplomáticas, retratam laços de amizade entre os dois países, homenageando dois escritores ilustres: Rachel de Queiroz e Ivo Andric´, cujas obras literárias levaram para o mundo as histórias de sua terra e de seu povo.
As peças filatélicas foram lançadas no dia 26 de outubro, nas cidades de Brasília/DF, Fortaleza/CE e Belgrado/Sérvia.
Com arte de Marina Kalezic´e tiragem de 300 mil exemplares, os selos retratam os dois autores homenageados. No primeiro, tem-se a imagem da autora Rachel de Queiroz. No canto inferior direito, encontram-se a representação da assinatura da autora e um diploma em referência ao Prêmio Camões, destinado a autores de língua portuguesa, recebido por Rachel em 1993. Abaixo do diploma, duas obras sobrepostas, e, ao fundo, uma estante de livros, destacando sua vida literária. O segundo selo focaliza o escritor sérvio Ivo Andric´. Na peça também estão reproduzidos a medalha e o diploma recebidos pelo autor na ocasião do Prêmio Nobel de Literatura, em 1961. Foi utilizada a técnica de computação gráfica e fotografia.
Cada selo custa R$ 2,55 e podem ser adquiridos nas agências e na loja virtual dos Correios (www.correios.com.br/correiosonline).
HISTÓRICO
Rachel de Queiroz nasceu em Fortaleza, em 17 de novembro de 1910, e morreu em 4 de novembro de 2003. Passou a infância em sua cidade natal, em uma fazenda do interior cearense. Muito jovem, publicou o romance O Quinze, que entusiasmou o País. Logo após, seu segundo romance, João Miguel, superou o primeiro, e Rachel se transformou num dos maiores nomes da literatura brasileira. Cronista de larga experiência em jornal, fez também obras de teatro. Seu estilo, de um realismo ao mesmo tempo didático e lírico, influiu em escritores de novas gerações no Brasil. Foi a primeira mulher eleita para a Academia Brasileira de Letras, em 1977, e ocupou a cadeira número 5.
Quando jovem, participou de algumas movimentações políticas, sendo uma das fundadoras do Partido Comunista em seu estado. Contudo, se afastou da vida política nos anos 1940, pois passou a não concordar com os rumos do programa revolucionário e, também, porque se preocupava com uma possível restrição no que concerne à sua liberdade artística.
Foi uma das pioneiras na fórmula do romance de ciclo nordestino, que buscava naquele ambiente social, cultural e geográfico os seus elementos temáticos, os tipos de problemas, os episódios que seriam transformados em matéria de ficção. O Quinze é um romance de cunho social, em que a autora aproveita observações da terrível seca de 1915, que ela acompanhou com os olhos de uma menina de apenas cinco anos.
Foi duas vezes convidada para ser ministro, a primeira pelo Presidente Jânio Quadros, e outra pelo primo Presidente da República, Humberto de Alencar Castelo Branco, mas recusou em ambas as oportunidades. “Não nasci para isso. Sou escritora, e olhe lá”. - costumava repetir para os seus amigos mais íntimos. E confessava: “Mesmo que isso me canse muito”.
Ela gostava de se considerar preguiçosa, o que não correspondia à realidade. Escreveu alguns dos mais preciosos romances da literatura brasileira, além de milhares de crônicas, especialmente a famosa Última Página, na fase áurea da revista O Cruzeiro. Destaca-se, particularmente, o valor do livro Memorial de Maria Moura, escrito já aos 83 anos de idade, com a valiosa colaboração da sua querida irmã Maria Luíza. Essa obra tem um enredo cinematográfico, o que ajudou muito a fazer com que a televisão aproveitasse os seus originais para uma vitoriosa minissérie. Aliás, sempre afirmamos que a epopéia vivida pela corajosa heroína nordestina poderia muito bem ser autobiográfica.
Quando recordamos a vida e a obra de Rachel de Queiroz, só um sentimento nos domina: saudade. (Fonte: Arnaldo Niskier – Academia Brasileira de Letras).
Ivo Andric´ (1892 – 1975), um dos maiores escritores sérvios, nasceu em Travnik. Completou a escola elementar em Visegrad, cidade que seria responsável por fazer florescer sua criatividade mais do que qualquer outro local, pois ele passaria seus dias admirando os finos arcos da ponte sobre o Rio Drina. Andric´ continuou sua educação na Escola de Gramática de Sarajevo, a mais antiga escola na Bósnia Herzegovina. Foi nesse momento de sua vida que começou a escrever poesia, e, em 1911, publicou seu primeiro poema, U sumark (O bosque), na revista Twilight. Foi também durante o secundário que Andric´ passou a se interessar por política e defender ativamente a causa iugoslava. Fez parte do movimento nacionalista Mlada Bosna (Jovem Bósnia) e lutou pela liberação dos povos eslavos, na época dominados pelo Império Austro-Húngaro.
Andric´ estudou história, filosofia e literatura nas universidades de Zagreb, Viena, Cracóvia e Graz. Inclusive, o autor testemunhou a queda do Império Austro-Húngaro e o surgimento do reino dos sérvios, croatas e eslovenos enquanto estudava na Universidade de Zagreb.
Ivo trabalhou como servidor público no Ministério da Religião, em Belgrado. Fez uma carreira de sucesso no Vaticano, em Bucareste, Graz, Belgrado Marselha, Paris, Genova e Berlim. Contudo, nunca deixou de lado a literatura, tendo escrito no período mais de cem contos e ensaios. Mas a maior parte de seus romances foram escritos durante a II Guerra Mundial, em Belgrado: Travnika hronika (A História Bósnia), Na Drini´cuprija (A ponte sobre o Drina) e Gospodica (Perda). Todos esses romances foram publicados após o fim da guerra.
Ivo Andric´ continuou seu trabalho frutífero em Belgrado, onde escreveu diversos contos, as novelas Proketa avlija (O Jardim Condenado) e Omespasa Latas, sendo que a última nunca foi terminada.
“Por sua força épica,” com a qual “moldou os temas e fatos da história de seu país”, Andric´ recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1961. Ele expressou sua gratidão pelo reconhecimento de sua obra em 10 de dezembro do mesmo ano, no discurso On Stories and Storytelling (Sobre estórias e a arte de contar estórias), no qual ele expõe os princípios básicos de seu estilo de escrita. Apesar de seu trabalho ter sido traduzido para diversas línguas antes mesmo do Prêmio Nobel, foi após o recebimento deste que grande parte do mundo se interessou por suas obras sobre os Bálcãs. Suas novelas e contos foram traduzidos para quase cinquenta línguas. Em 13 de março de 1975, este grande literato da Sérvia, escritor da mitificação dos poderes e sábio cronista dos Bálcãs, deixou este mundo. (Fonte: Radovan Vuckovic – Presidente do Conselho Administrativo © Fundação Ivo Andric, Belgrado, Sérvia).