Enéas Ferreira Carneiro (
Rio Branco,
5 de novembro de
1938 —
Rio de Janeiro,
6 de maio de
2007) foi um
político e médico
cardiologista brasileiro. Como político, fundou o extinto
Partido da Reedificação da Ordem Nacional, o PRONA. Doutor Enéas foi três vezes candidato à
Presidência da República e, em
2002, foi eleito
Deputado Federal pelo estado de
São Paulo, recebendo votação recorde de mais de 1,57 milhão de votos. Como político criou um dos mais famosos bordões do meio, sempre após seus pronunciamentos ou propostas de governo, soltava: "Meu nome é Enéas!". Personalidade de contrastes, Enéas perdeu os pais aos nove anos de idade, sendo obrigado a trabalhar para sustentar seus irmãos. Em
1958 abandonou a vida humilde no estado do
Acre para iniciar seus estudos no
Rio de Janeiro. Em
1959 formou-se terceiro-sargento auxiliar de
anestesia. Em
1965 formou-se em
Medicina pela
Escola de Medicina e Cirurgia, com especialidade em
Cardiologia. O livro didático dele sobre
eletrocardiograma fez tanto sucesso entre os alunos de medicina que era conhecido como A Bíblia do Enéas. A produção acadêmica de Enéas, entretanto, não se restringe à medicina, e ele é autor de artigos sobre diversos assuntos, desde Cardiologia, até
Filosofia,
Lógica e
Robótica. Em
1980 foi diplomado como médico do Hospital do Câncer do Rio de Janeiro. Enéas fundou, em
1989, o
PRONA, lançando-se imediatamente candidato à Presidência nas primeiras
eleições diretas do
Brasil, após o período da
Ditadura Militar. O seu tempo na
propaganda eleitoral gratuita era de apenas dezessete segundos. Todavia, sua imagem exótica (um homem pequeno, calvo, com enorme barba cerrada e grandes óculos), aliada a uma fala rápida e discurso inflamado e ultranacionalista (terminado sempre por seu indefectível bordão: "Meu nome é Enéas"), fez com que o então desconhecido político angariasse mais de 360 mil votos, colocando-o em 12º lugar entre 21 candidatos. A propaganda vinha sempre acompanhada pela Quinta sinfonia de
Beethoven. Percebendo a penetração de sua imagem junto ao eleitorado, Enéas voltou a se candidatar em
1994, dispondo então de um minuto e 17 segundos no horário eleitoral. Mesmo sendo o
PRONA um partido ainda sem expressão, o resultado surpreendeu os especialistas em
política. Enéas foi o terceiro mais votado, posicionando-se à frente de políticos consagrados, como o então governador do Rio de Janeiro
Leonel Brizola, do ex-governador de São Paulo
Orestes Quércia, e do ex-governador de
Santa Catarina,
Esperidião Amin, com mais de 4,6 milhões de votos (7%). Em
1998, com um minuto e 40 segundos disponíveis no horário eleitoral, Enéas expôs seu discurso nacionalista como nunca havia feito antes. Suas idéias, entretanto, como a construção da
bomba atômica, a nacionalização dos recursos minerais do subsolo brasileiro e a ampliação do efetivo militar, consideradas polêmicas, passaram a ser usadas como arma política para deter sua crescente popularidade. Nas eleições presidenciais daquele ano, foi o quarto colocado. Em
2000 candidatou-se à prefeitura de São Paulo, sem muito sucesso, embora tenha conseguido reunir votos para a eleição de sua candidata a
vereadora Havanir Nimtz. Em
2002 candidatou-se a
deputado federal por São Paulo, obtendo a maior votação da história brasileira para aquele cargo. Seu partido obteve votos suficientes para, através do sistema proporcional, eleger mais cinco deputados federais (mesmo com votações inexpressivas, abaixo dos mil votos). Este episódio ficou marcado pela polêmica de que alguns destes candidatos teriam mudado de colégio eleitoral de forma ilegal apenas para serem eleitos pelo princípio da proporcionalidade, confiando nos votos conferidos ao partido através de Enéas. Enéas também participou ativamente das eleições para prefeitos e vereadores em
2004, ajudando a eleger vereadores em várias capitais, como Rio e São Paulo, e prefeitos em pequenas cidades. Enéas Carneiro apresentava-se como um político nacionalista e radicalmente contrário ao
aborto e à
união civil de
pessoas do mesmo sexo. Alguns críticos o associavam como um novo ícone do
Movimento Integralista. Analistas enxergam Enéas como um fruto da
democracia moderna, alegando que sua imagem excêntrica e seu bordão ("Meu nome é Enéas") se sobrepõem ao seu discurso hermético e intelectualizado frente às classes mais pobres da sociedade brasileira. No início de
2006, Enéas passou por sérios problemas de saúde, uma
pneumonia e uma
leucemia mielóide aguda, que fizeram com que perdesse sua folclórica barba. Ainda em função de seus problemas de saúde, em junho de 2006 Enéas anunciou que desistira de sua candidatura à Presidência da República e que concorreria novamente à
Câmara de Deputados. Na nova campanha, mudou seu bordão para "Com barba ou sem barba, meu nome é Enéas, 5656!". Foi reeleito com a quarta maior votação no estado de São Paulo, atingindo 386 905 votos, cerca de 1,90% dos votos válidos no estado. Após o primeiro turno das eleições presidenciais de 2006, seu partido, o
PRONA, se funde com o PL e então é fundado um novo partido, o
Partido da República. No dia
6 de maio de
2007, aos 68 anos, Enéas Carneiro faleceu em sua casa, vitimado pela
leucemia mielóide aguda, após ter desistido do tratamento
quimioterápico e abandonado o hospital onde era tratado, o
Hospital Samaritano, no bairro de
Botafogo. Enéas compreendeu que seu tratamento não surtiria efeito. Seu corpo foi velado na manhã do dia
7 de maio no
Memorial do Carmo (que fica no
Cemitério São Francisco Xavier), e
cremado, na tarde do mesmo dia, no
crematório da
Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro. O último pedido de Enéas foi que sua família jogasse suas cinzas na
Baía de Guanabara.