sábado, 13 de julho de 2013

Selo valoriza a pluralidade cultural



Valorizar a diversidade cultural do Brasil é uma das preocupações dos Correios. E como forma de registrar essa pluralidade de credos e costumes, a empresa lança neste sábado (13/7), em Salvador (BA), um selo (de emissão especial) Ilê Axé Opô Afonjá. Trata-se do terreiro histórico de Candomblé que se tornou uma importante referência na construção de valores das religiões de matriz africana, de grande significado no contexto religioso e social do Brasil.
 O selo tem como figura de fundo a porta de entrada da casa de Xangô, orixá patrono do Terreiro Ilê Axé Opô Afonjá, e as franjas de mariwô, tiras das folhas novas do dendezeiro utilizadas acima das portas para proteção e indicação de locais sagrados. Em primeiro plano, encontram-se o logotipo do Terreiro e um oxê, machado com lâmina dupla, que traduz a justiça implacável e imparcial de Xangô, a qual todos os homens estão sujeitos. A arte é assinada por Rose Vermelho e as técnicas utilizadas para a confecção foram fotografias e desenho.
O selo tem valor facial de 1º Porte da Carta Comercial (R$ 1,20) e a tiragem é de 300 mil e pode ser adquirido nas agências e na loja virtual dos Correios (www.correios.com.br/correiosonline).

Histórico
Em 1910, Eugênia Anna dos Santos, OBA BIYI, Mãe Aninha, como era apelidada carinhosamente, iniciada na Rua dos Capitães, na Bahia, hoje Rua Rui Barbosa, fundou o Ilê Axé Opô Afonjá e um corpo de doze OBÁS de Xangô, responsáveis pela condução civil dos destinos do Terreiro, auxiliada pelo Babalaô Martiniano Eliseu do Bonfim, elo de ligação entre o Axé e a Nigéria.
Esta mulher, cuja cabeça pertence a Xangô, era filha de santo de Iyá Marcelina, OBÁ TOSI, do Engenho Velho - AXÉ IYÁ NASSO OKÁ - o primaz do Brasil e em sua determinação política e religiosa foi a responsável pelo reconhecimento e liberação do culto afro-brasileiro, que era tido como “coisa de negro ignorante, prática fetichista e vergonha da Bahia”, como lembrava sempre, sem temor das palavras.
Quando morava no Rio de Janeiro, então capital da República, foi encontrar-se com o presidente Getúlio Vargas, obtendo dele, por sua capacidade de persuasão e convencimento espiritual, a partir da sua liderança inquestionável, o direito à liberdade de cultos religiosos, oficializado por meio do Decreto-Lei nº. 1202, de 8/4/1939.
Em 1936, antes de sua passagem para a ancestralidade, Eugênia Anna dos Santos criou a Sociedade Civil Cruz Santa do Axé Opô Afonjá, para garantir a continuidade da sua obra e prevenir possíveis incidentes e disputas de poder, dando uma orientação segura dos princípios indestrutíveis que deverão ser mantidos na tradição da casa religiosa e na transmissão destes mesmos princípios para quem quiser viver este momento espiritual.
Dedicou uma casa individual de culto para cada orixá, sem, no entanto, abrir mão da afirmação “até hoje e quiçá para sempre” frase esta que pode ser compreendida nos moldes de que o Ilê Axé Opô Afonjá é e será um espaço comunitário mantido pela força vital de Xangô.
Mãe Aninha “encantou-se” em 1938. Todas as demais que a sucederam, Mãe Bada, até 1941, Mãe Senhora, até 1967, Mãe Ondina, até 1975, e a atual Mãe Stella de Oxóssi (1976), mantiveram os princípios, os valores e a tradição do Ilê, sustentado por Xangô.
Em 1978, Mãe Stella inicia sua obra cultural e social com a fundação de uma creche-escola, de um museu da tradição religiosa, de uma biblioteca de referência para pesquisadores e estudiosos, de sucessivos encontros, debates, seminários com o mais amplo prisma de debatedores, mantendo a tradição de uma casa democrática e aberta para o pluralismo e diversidade religiosa e cultural que ultrapassam os limites dos muros do Opô Afonjá.
Oficinas de formação artística e cultural, de cursos profissionalizantes e de atualização permanente, colocam este complexo cultural e educacional na ponta de experiências inovadoras de democratização do ensino formal das atividades de formação, garantindo a transmissão destes valores fundamentais e fundantes desta tradição africana, base indissolúvel da sociedade brasileira. Sem esquecer a sua principal função: a manutenção da religiosidade humana, que no caso do candomblé é feita por meio da implantação e fortalecimento do AXÉ (força, energia) individual e coletivo.
O candomblé não se ocupa apenas com os seus iniciados, mas sim com tudo que interfere no equilíbrio da raça humana: o ecossistema como um todo, a fauna e flora do planeta, as relações entre os homens, etc. Para exercer a função de colaborar com o equilíbrio e a harmonia do homem e da sociedade é fundamental para o candomblé a preservação do seu Espaço Sagrado, sendo a área onde estão suas árvores e folhas sagradas e consagradas imprescindível para que seus sacerdotes possam ajudar a todos que buscam o auxílio desta religião. (Fonte: José Ribamar Feitosa - Presidente da Sociedade Cruz Santa do Axé Opô Afonjá).


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