A expressão antiga que diz, “palavra de rei não volta atrás”, é totalmente contra os princípios básicos do cristianismo. É a capacidade de reconhecer os próprios erros que engrandece a pessoa e a faz ser mais importante do que o ”rei”, superando seu orgulho, vaidade, amor próprio e querer ser mais importante do que os outros.
Vemos na história dos povos momentos fortes de vingança, de valores colocados na arbitrariedade, provocando ceifa de vidas humanas. Por outro lado, também encontramos gestos profundos de diálogo e reconciliação, de negociação e superação de pretensões iníquas, revelando a capacidade de ação presente nas pessoas.
Dentro do projeto salvador de Deus, a reconciliação é fundamental. Olhando nos escritos bíblicos, em vários momentos o povo se rebelou contra o Criador, mas sempre foi atendido e perdoado. Isto é sinal de que Deus, em sua bondade, “não quer a morte do pecador, mas que ele se converta e viva” (Ez 18, 23).
Umas das características de quem busca o perdão e é perdoado, é a alegria, a liberdade e a felicidade por causa da reconciliação. O ódio e a vingança matam as pessoas por dentro e as fazem preferir a morte à vida. A incapacidade de pedir perdão e de perdoar traz consequências inimagináveis na vida psicológica e espiritual.
Perdoar é deixar o passado e sentir-se feliz com a nova realidade. Foi o que aconteceu com o pai do filho pródigo do evangelho. Fez festa porque o filho voltou para casa. Para isto, a única condição colocada: você mudou de vida? Então faz parte da convivência familiar, com o mesmo carinho e amor que havia antes.
Até Deus troca de ideia quando os infratores mudam de vida, e não os castiga. Parece estranho o Senhor dar mais atenção a uma ovelha desgarrada do que a noventa e nove que permanecem no rebanho. Caifás fez o contrário: “É melhor que um morra pelo povo todo” (Jo 11, 49-51). São duas realidades contraditórias, que mostram o ser de Deus e ser do mundo.
Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba.
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