sábado, 1 de setembro de 2012

Selos retratam lenda do guaraná e mandioca


Os Correios lançaram no dia 22 de agosto, nas cidades de Manaus (AM) e Belém (PA), dois selos (de emissão especial), retratando Mitos e Lendas: Guaraná e Mandioca. 
A emissão brasileira faz parte da Série América, da UPAEP – União Postal das Américas, Espanha e Portugal, que, neste ano, tem como tema mitos e lendas.
Sobre os selos – O selo da lenda do guaraná apresenta, ao fundo, a mãe, e, em primeiro plano, o curumim, a serpente (espírito do mal, Jurupari), a planta do guaraná e vários frutos representando os olhos do menino. Já o selo da lenda da mandioca apresenta, em primeiro plano, a mãe com o bebê em seu colo, em segundo plano, a planta da mandioca que brotou a partir de Mani e, ao fundo, a aldeia e demais personagens da lenda: o forasteiro, a mãe índia chorando com a pequena Mani morta em seus braços. Como elemento comum, os dois selos apresentam o grafismo marajoara característico da região Norte. Na concepção do artista Márcio Guimarães, nos grafismos apresentados nos dois selos, a sobreposição de triângulos representa proteção e zelo da mãe, a linha sinuosa simboliza o ciclo da vida e as linhas horizontais a terra firme. Foi utilizada a técnica de computação gráfica.
Cada selo tem valor facial de R$ 1,85. A tiragem de cada peça é limitada a 180 mil exemplares, em um total de 360 mil e podem ser adquiridos nas agências e na loja virtual dos Correios (www.correios.com.br/correiosonline).



HISTÓRICO
As lendas de origem se configuram como narrativas, geralmente de circulação oral, que explicam o aparecimento de algo ou de alguém, e por tal razão confundem-se com mitos.
A série de selos emitida pelos Correios traz duas lendas de origem: a lenda do guaraná e a da mandioca. Ambientam-se no contexto indígena e descrevem uma situação de sofrimento. Há, nas duas, a figura do forasteiro responsável por engravidar uma mulher da tribo. Tratam da relação da morte e do renascimento e explicam a origem das coisas numa perspectiva antropomórfica, num movimento do ser-vivo-humano para ser-vivoplanta. Estão ligadas a costumes alimentares indígenas, herdados pelos colonizadores e escravos africanos. As variações são pontuais, restringindose à nação indígena na qual se passa ou a um detalhe mais específico como o tipo de serpente (no caso da lenda do guaraná), mas guardam o vínculo com a cultura indígena amazônica e o movimento cíclico da vida. Tanto “guaraná” como “mandioca” são palavras tupi-guarani, de difícil precisão etimológica, e foram bastante circuladas no processo de colonização, tornando-se marcas permanentes da cultura brasileira.
A versão apresentada está ligada aos Sateré-Mawé, povo indígena da Floresta Amazônica, pelo fato desses índios serem considerados os “inventores da cultura do guaraná”. Como apontam Bastien Beaufort e Sébastien Wolf em seu Le Guarana, trésor dês Indiens Sateré Mawé (Editions Yves Michel, 2008), o guaraná está presente tanto na economia como em vários ritos de caça, pesca e guerra dos Sateré-Mawé, mesmo 350 anos depois do contato com o colonizador, que se deu no século XVII.
Diz a lenda, que após um longo tempo de combate com os Apiakás, aparece na tribo Sateré-Mawé, já muito enfraquecida pela guerra, um forasteiro responsável por engravidar uma índia bastante disputada entre os guerreiros e dela nasce um menino de olhos graúdos. Com o nascimento do menino, os Sateré-Mawé deixam de ser atacados pelos Apiakás e passam a viver um momento de calmaria e fartura. Havia a crença de que o momento de bonança estava relacionado à existência do menino e, por conta disso, ele era protegido e vigiado pelos demais. Até que um dia, o espírito do mal (“jurapari” em tupi guarani, algumas versões indicam um pajé apiaká), assumiu a forma de uma serpente que dribla a vigilância e ataca o menino, levando-o à morte. Todos ficaram muito tristes. O pajé mawé foi alertado por seus deuses a arrancar os olhos do menino e a enterrá-los. Após ser regado durante quatro luas pelo pranto de todos da tribo, nasce uma planta, cuja semente lembra bastante o formato do olho do menino. Da semente ralada se fez uma bebida responsável por dar força aos guerreiros mawés.
A lenda de origem da mandioca, também conhecida como “A lenda de Mani”, foi popularizada por Couto de Magalhães em seu livro O Selvagem. Apresenta uma estrutura muito comum à versão da lenda do guaraná mawé, na qual um forasteiro aparece numa tribo indígena (segundo Couto de Magalhães, localizada na região de Santarém no Pará) e engravida uma das índias, a qual é castigada pelo pai, o cacique, pela desonra. Após nove meses, nasce uma menina alva, chamada Mani, e todos da tribo criam apego a ela. Inexplicavelmente a menina morre e sob sua sepultura (que na versão de Couto de Magalhães é dentro da oca da mãe da menina), umedecida pelas lágrimas da mãe, nasce um arbusto do qual as raízes passaram a ser muito apreciadas na alimentação de todos.
A poesia dessas lendas, comuns no folclore brasileiro, reside, justamente, na força da vida como forma de superação da dor, tanto pela importância que têm na alimentação nacional, quanto pelo movimento de vida-morte-vida que expressam e, também, pelo sofrimento do contato dos povos indígenas da Amazônia com o colonizador. (Fonte: Frederico Fernandes, professor doutor do Departamento de Letras Vernáculas e Clássicas da Universidade Estadual de Londrina).


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