A
gratidão
Convivemos,
dentro do clima da pós-modenidade, com a esfera do individualismo e
com o sistema de egocentrismo muito aguçado, que têm como fonte de
sustentação, o mito do bem-estar. Isto vem acontecendo na realidade
de endeusamento e idolatria do mercado e do consumo, dificultando a
essencial prática da gratidão.
Temos
muitos gestos evidentes de gratidão. Um deles está nos presentes
que oferecemos aos amigos em diversas ocasiões. Mas não basta
somente isto se não valorizamos a pessoa na sua identidade,
reconhecendo nela o bem que faz, sendo até merecedora do gesto de
gratidão. Agradecer é confiar sem ficar exigindo troca.
Às
vezes agradecemos um estrangeiro com mais frequência e facilidade do
que a quem está sempre conosco. Na convivência achamos ser um
direito o que o outro faz por nós e não nos preocupamos com o ato
da gratidão. Isto pode ter a conotação de não valorizar o que
recebemos de quem convive conosco todo dia.
A bíblia fala dos dez
leprosos que ficaram curados. Apenas um, que era estrangeiro, voltou
para agradecer. Isto foi causa de crítica de Jesus, porque
demonstraram atitude de ingratidão, de fechamentos em si mesmos.
Podemos até concluir que a ingratidão coincide um pouco com a
injustiça e o não reconhecimento do valor de quem nos faz o
bem.
Todo ano temos a oportunidade de comemorar o dia do
nascituro, da vida e do valor que ela tem. Sabemos que a vida é um
dom e um direito inerente à pessoa. Quem teve a oportunidade de
nascer, tem também a obrigação de agradecer e de valorizar esse
dom. Milhares de indivíduos não têm esta oportunidade e são
eliminados por diversas circunstâncias.
Louvor, graça, gratidão,
gratuidade e agradecimento são palavras chaves, que ajudam no
relacionamento comunitário. Há o perigo de sermos mais propensos
para pedir do que para agradecer. Pior ainda é quando queremos levar
vantagem em tudo, tendo atitude de exploração e de injustiça com o
outro. Ser grato é ser fraterno e capaz de ajudar na boa
convivência.
Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba.
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