A integração territorial precedeu a unidade
simbólica na criação do 1º selo postal brasileiro
O Brasil foi o segundo país do mundo a adotar os selos postais, seguindo de perto o exemplo da Inglaterra, que os adotara em 1840. Criados pelo Decreto nº 255, de 29 de novembro de 1842, os Olhos-de-Boi foram emitidos em 1º de agosto de 1843, data em que atualmente se comemora o “Dia Nacional do Selo”. Tal fato representou uma mudança nos serviços postais brasileiros, pois permitiu a arrecadação da franquia adiantada, melhorando a receita dos Correios, e, também, a agilidade das entregas.
Muito se fala a respeito da visão avançada do Imperador D. Pedro II em adotar um sistema inovador, responsável por melhorar as comunicações no país. Entretanto, para além do personalismo, é preciso atentar para o significado político da adoção dos selos em um país de independência recente, que buscava coesão interna e a afirmação frente ao cenário mundial.
Nessa época, o desafio das autoridades que assumiam o país era firmá-lo enquanto nação e manter a unidade em um território extenso. Além disso, passava-se por um período de aumento das trocas comerciais internacionais, havendo a necessidade de se tornar as comunicações mais rápidas e as distâncias mais curtas.
Já em 1829, tornou-se uma primeira atitude nesse sentido, dando início à reforma postal e, alguns anos depois, o selo postal juntou-se às medidas de melhoria das comunicações. Outra ação integrada a esse conjunto de iniciativa foi a adoção do Telégrafo Elétrico, em 1852.
Uma das formas de tentar formar uma nação integrada consistiu também na divulgação da imagem do Imperador como símbolo da unidade que se queria conquistar. Apesar de seu potencial nesse sentido, a faceta simbólica dos selos não foi explorada senão em período posterior. O próprio padrão adotado pelos olhos-de-boi revela isso. Nesses selos, se podem ver somente as taxas a serem pagas por cada estampilha, em um padrão circular.
A figura do Imperador só aparecerá em período posterior. Isso nos leva a pensar que, inicialmente, os selos foram adotados somente enquanto medida prática para solucionar o problema na agilidade das correspondências. Assim, pelo menos no que diz respeito aos selos e à reforma postal, a preocupação da integração nacional territorial precedeu a preocupação com a manutenção da unidade simbólica.
Em relação à utilidade dos selos enquanto integradores nacionais por meio da agilidade das entregas, devemos ter em mente que muitas províncias permaneceram pouco conectadas com o resto do país, sendo aquelas situadas no centro as de situação mais problemática.
Esse foi o caso de províncias como Goiás e Mato Grosso, as últimas a receber as remessas dos olhos-de-boi, em 1844, quando a impressão desses selos já havia sido suspensa, para se dar lugar aos inclinados. Portanto, a adoção dos selos postais no Brasil, em conjunto com a reforma postal, representam apenas o marco inicial da tentativa construir um país integrado, quer simbolicamente, quer territorialmente. (Fonte: Revista COFI – Correio Filatélico, edição 225, abril a junho de 2012).
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