quarta-feira, 5 de junho de 2013

Jocelino Soares expõe no Congresso Nacional


A arte carregada de memórias da vida na roça no 
 Noroeste Paulista produzida pelo artista plástico
 Jocelino Soares, morador de Rio Preto, 
vai invadir a capital federal. 

A partir de quarta-feira até o dia 30 deste mês, seu trabalho poderá ser conferido na exposição individual “Sentimento Caipira: 40 anos da Pintura de Jocelino Soares”, na Galeria do Salão Nobre da Câmara dos Deputados, em Brasília. 
A abertura será às 19 horas e, para comemorar as quatro décadas de trabalho do artista que retrata de forma poética a simplicidade do universo rural, no coquetel, haverá “queima do alho” e show com a viola caipira de Enúbio Queiroz, que se apresenta acompanhado de Nilson Toledo no violão. Com curadoria de Odécio Rossafa, a exposição é composta por 23 obras em óleo sobre tela, em vários tamanhos, produzidas pelo artista plástico a partir de 2006. Nelas, Soares retrata paisagens e personagens rurais, trazendo à tona suas memórias afetivas. 
São colheitas de café, de cana, de arroz, além de seus famosos campos de girassóis, a exemplo dos quadros do mestre Vang Gogh. Segundo o artista, a exposição em Brasília tem cunho mais comemorativo, enquanto uma mostra retrospectiva será marcada para o segundo semestre, em Rio Preto. Natural de Neves Paulista, Soares morou no campo durante a infância e adolescência, trabalhando em lavouras de café. Ele recorda que seus primeiros desenhos foram feitos em taperas, com carvão de fogueira. depois, com lápis e papel comprados aos sábados pelo pai na cidade - ele desenhava sob a luz de lamparina. 
“Havia em mim a necessidade de colocar para fora uma coisa que eu não sabia. Eu tinha uma necessidade de me expressar, e o meio mais fácil era através do desenho. E aos poucos isso foi ganhando espaço dentro do meu pensamento, e então comecei a frequentar a Casa de Cultura. Era um período difícil, em plena ditadura.” 
Até assumir a identidade caipira em sua vida e sua arte, Soares passou por um árduo processo. O garoto de mãos rudes começou a ter aulas na Casa de Cultura em Rio Preto, em 1972, dividindo-se entre o trabalho no campo e o gosto pela arte, jornada que ele levaria até 1977, quando entrou para a Polícia Militar e veio morar em Rio Preto. 
“Eu saí da roça em 1977 e, naquela época, existia uma discriminação horrorosa, e eu queria me desligar da roça, das minhas origens. O caipira era mau visto, não era aceito, inclusive eu sofri muito com essa identidade. Quando comecei em 1972, na Casa de Cultura, eu saía da roça e vinha para a cidade para ter aulas na Escola de Arte Juvenil. Eles me chamavam de capiau, caipira. Aí eu voltava para a roça e lá eles diziam que eu era o professorzinho. Eu não queria usar o dialeto, queria falar igual o pessoal da cidade, e lá eles falavam que eu era metido.” 
Entre as influências que ajudaram nesse processo, Soares cita o professor e escritor Romildo Sant’Anna. “Conversávamos muito e ele falava que gostava de moda de viola. Ele dizia que nós não podemos perder nossa raiz. Hoje eu convivo muito bem com isso, e uso então essas imagens que estão na minha memória afetiva, do passado, e trago para o presente, e faço uma ponte do passado para o presente, valorizando aquilo que eu vivi na infância, e que também aparecem nas crônicas que escrevo.” 
Soares ficou durante 15 anos produzindo em branco e preto, até que, em 1988, o artista plástico Alcides Rozani franqueou sua entrada a seu ateliê, para que o observasse trabalhar as cores. “Aí fiquei olhando ele pintar, a fazer o cozimento das cores, e eu fiquei durante semanas até que um dia criei coragem e falei ‘Olha, amanhã vou trazer uma tela’.”
‘Nunca dei um tiro’
Da Polícia Militar, a aposentadoria veio em 2000. “Era uma forma de subsistência para poder alimentar a arte. E também eu era muito mais artista sendo policial. Nunca dei um tiro, sempre fui muito correto, sempre usei da sensibilidade como policial, como artista e como pessoa.” 
Soares lembra que o inusitado de ser um pintor policial lhe rendeu frutos nos anos 1980. “Durante muitos anos eu surfei nessa onda. Meu trabalho apareceu nos grandes órgãos de imprensa, por ser um policial que desenhava, não era só eu, tinha outros artistas, mas descobriram a mim”, diz ele, que coleciona duas exposições individuais na Itália e uma nos Estados Unidos, calcula ter produzido mais de mil obras (entre desenhos, pinturas e gravuras), e ainda hoje se emociona quando recorda de sua trajetória. “Diria que foi um escavar a alma, arrancando pedaços ali e construindo tijolo por tijolo.” A visitação à exposição é gratuita, e pode ser feita a partir de quinta, das 8 às 17 horas.

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