terça-feira, 26 de novembro de 2013

Paróquias conservam relíquias originais de santos como tesouro


 Uma caixa de vidro, em um altar lateral, atrai os olhares dos fiéis no santuário São Judas Tadeu, em Rio Preto. 
Quem passa por ela faz o sinal da cruz, deposita sua intenção e reza em silêncio. As grades protegem o conteúdo que possui grande valor espiritual para a comunidade: um pequeno pedaço de osso, menor que um grão de arroz, de um dos doze apóstolos de Jesus Cristo está guardado no templo. 
Partes do corpo, roupas ou objetos que de alguma forma fizeram parte da vida de um santo são considerados relíquias. “São expressão da materialidade da vida de um santo. São uma forma de provar que aquela pessoa realmente existiu e são divididas em graus”, explicou padre José Luiz Cassimiro, da diocese de Catanduva. 
O reitor do santuário São Judas Tadeu, padre Luiz Donizeti Caputo, explica que as relíquias permitem visualizar de forma real um santo. 
“Às vezes, ela é pequena como um grão de mostarda, mas grandiosa em seu significado. A partir dela, pela fé, as pessoas podem tocar, sentir e se fortalecer espiritualmente mediante a proteção e intercessão do santo”, afirmou o pároco. 
A data de chegada do ossinho de São Judas em Rio Preto é desconhecida. Como toda relíquia autêntica, ela também possui seu documento. “Após a morte de Dom José de Aquino (novembro de 2011) encontraram guardado na casa dele o documento, emitido pelo Vaticano, comprovando que aquele fragmento não é simplesmente um objeto, mas é de fato uma parte do corpo de São Judas”, explica o padre. Segundo o religioso, a relíquia do santo das causas impossíveis é rara no Brasil.Existem apenas três. Além da rio-pretense, as outras duas estão em São Paulo. 
Apenas uma vez por mês, a peça sagrada do Santuário São Judas deixa a urna e pode ser tocada pelo povo. “Todos os dias 28, às 19h, é dada a bênção dos enfermos e idosos com ela”, conta o padre. Católica fervorosa, a professora Dezuita Ramos Santana, 53, sempre vai a paróquia para fazer suas orações. Ao passar pelo altar do santo, ela deposita sua intenção na urna e reza pedindo sua intercessão. “Sempre que venho rezar, passo pela relíquia e faço minha prece. Para quem tem fé, ter um pedacinho do santo na igreja, é muito bom”, disse Dezuita. 


Frei Galvão 
Outros santos também figuram no relicário de igrejas da região. Na paróquia Santa Izabel, em Catiguá, padre Marcelo Eduardo Bonifácio guarda algumas. Entre as mais relevantes está um fragmento ósseo de Santo Antônio de Sant´Anna Galvão. “Quando o papa emérito Bento 16 esteve no Brasil, em 2007, participou de encontro com os jovens no estádio do Pacaembu. Acabei celebrando naquela ocasião. Era o último dia da novena em preparação para a canonização de Frei Galvão. Após a missa, a postuladora da causa, irmã Célia Cadorin, me deu essa relíquia de presente”, lembra o religioso. 
Além desta (primária), padre Marcelo possui outras duas secundárias. Um pedaço do hábito (roupa de religiosos) do Beato Padre Mariano de La Mata e de Santa Madre Paulina. Mais uma relíquia de Frei Galvão está na cidade de Bebedouro, onde foi consagrada a primeira paróquia do santo brasileiro, erguida quando ele ainda era beato. 

Padre Marcelo também possui outro “tesouro”, um fragmento de osso de São Sebastião, que viveu no século 4. Veio da Itália há pouco mais de um ano. “Pedi para um padre que veio cuidar do processo de beatificação do padre Albino. Quando falei que compraria, o padre ficou bravo comigo. Ele me disse que relíquias não podem ser vendidas de modo algum, são uma devoção popular. Após alguns meses, ele trouxe aquela preciosidade de presente para nossa comunidade.” 
Também em Catanduva, há um pedaço do hábito de Santa Rita de Cássia e uvas da videira que a santa plantou no século 15. “É muito importante ter a relíquia de Santa Rita aqui. É como se ela mesma estivesse junto de nós”, disse a secretária Elaine Roberta de Souza, 33. O corpo da santa se mantém intacto até hoje e está exposto no santuário de Santa Rita, em Cássia, na Itália. 


Um fragmento do osso de São Sebastião também está em Rio Preto, na paróquia Senhor Bom Jesus e São Sebastião, no bairro Eldorado. Padre Fábio Dungue explica que no dia da festa do padroeiro a comunidade recebe a bênção com a relíquia do santo. “É bem antiga na comunidade, tem uns 30 anos. O pessoal tem muito carinho e conhece o significado da relíquia.” 
Um religioso que passou pela região e foi elevado aos altares também tem sua relíquia venerada em uma igreja. No distrito de Engenheiro Schmitt, um pedaço do osso de um dedo do beato Padre Mariano de La Mata está na paróquia Santa Apolônia. Fica exposto na paróquia, onde a visitação é frequente. “A relíquia é um ato de devoção àquela pessoa que passou fazendo o bem neste mundo. São pessoas que nos servem de modelo de vida e de fé e nos indicam o caminho de Cristo, nosso Senhor. Por isso, ter esse pedacinho do Beato na comunidade é um fato positivo”, afirma padre Amilton Guerra, pároco da igreja de Schmitt. 
Graus de divisão das relíquias:
:: Primárias: Partes do corpo do santo (fragmentos de ossos, sangue) 
:: Secundárias: Roupas que tiveram contato com o corpo do santo 
:: Terciárias: Objetos pessoais do santo 

Fonte: Padre José Luiz Cassimiro, diocese de Catanduva 

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