terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Dom Orani João Tempesta é anunciado como cardeal pelo Papa Francisco



Tenho Rio Preto em meu coração, pois foi a minha primeira diocese. Bispo novo, cabelo preto, magrinho”, disse ontem ao Diário da Região o arcebispo do Rio de Janeiro e agora cardeal nomeado pelo papa Francisco, dom Orani João Tempesta. 
O monge cisterciense que adorava comer ovo frito com queijo e beiradinha queimada, além de pão de queijo quentinho aos montes, moço simples nascido em São José do Rio Pardo, passa agora a ser eleitor do papa e também candidato ao trono do Vaticano, num eventual conclave.Quando as pessoas perguntam nesses dois dias se está preparado para ser Papa, ele ri. 
D.Orani, que viveu sete anos, sete meses e sete dias em Rio Preto desde 1997, integra a partir do dia 22 de fevereiro a aristocracia da Igreja, embora o papa Francisco peça humildade a todos os 19 cardeais nomeados. 
Para o Diário, ele disse não esquecer Rio Preto. “Como em todos os ofícios a mim confiados, fui a Rio Preto para servir de maneira concreta, total. Servir o povo que me era confiado. Recordo com muito carinho do povo, das visitas às comunidades e os belos trabalhos pastorais realizados. Nas dificuldades, o Senhor me amparou e me conduziu.” 
Aqui ele celebrou rotineiramente missas no antigo Cadeião de Rio Preto pela Pastoral Carcerária; ceou na Páscoa e Natal com moradores de rua pela Pastoral do Povo de Rua; e lavou os pés de pessoas humildes na Quinta-feira Santa, numa paróquia simples do bairro Santo Antônio como parte litúrgica da Quaresma, já no primeiro ano de sua gestão. 
Foi o bispo que abriu a Igreja Particular de Rio Preto à comunicação, antes impensada. Criou Pastorais da Comunicação consistentes, e acompanhava e cobrava o trabalho de todos. Abriu duas emissoras de rádio e deu deferência especial à RedeVida de Televisão, a maior TV católica do Brasil. 
"Dom Orani, homem da comunicação, continua como ícone para as televisões de inspiração católica. A Canção Nova agradece a Deus a sua nomeação e reza pelo seu apostolado," disse monsenhor Jonas Abib, fundador da Comunidade Canção Nova.
O anúncio 
Honraria quase máxima da Igreja Católica, o novo cargo foi anunciado pelo Papa depois do Angelus, que ele reza na sacada do palácio do Vaticano todo domingo, na praça São Pedro. Até então, Orani é arcebispo metropolitano do Rio de Janeiro, depois de passar pela Diocese de Rio Preto (1997-2004) e Arquidiocese de Belém do Pará (2004-2009). 
Agora muita coisa muda na sua vida, a começar pela indumentária que passa a ser vermelha, a cor cardinalícia, a cor do sangue dos mártires da Igreja. Das missas presididas nas grades do Cadeião, ele passa a participar das reuniões na Capela Sistina, no Vaticano, pintada das paredes ao teto por Michelângelo, um dos maiores nomes do Renascimento. 
Enquanto não chega o dia, ele trabalha. Este mês, até o próximo dia 20 de janeiro, Dom Orani está percorrendo as capelas, igrejas, instituições sociais e comunidades (favelas) com a imagem de São Sebastião, padroeiro do Rio. Ele decretou 2014 o Ano da Caridade como plano de pastoral da Arquidiocese e começou a peregrinação, que vai das 7 da manhã às 21 horas.
No domingo, 12, depois de celebrar missa na TV Brasil, no Rio, às 8 horas da manhã, ele estava entrando no carro quando recebeu a notícia do cardinalato pelo celular. Emocionou-se muito. Solicitado em seguida para gravação em uma rádio, ele deixou transparecer isso. 
"A gente ouvia a entrevista e tinha a impressão de que ele chorava. Depois foram entrevistá-lo na peregrinação, e ele tinha as mãos geladas," disse o jornalista Carlos Moioli, assessor de Dom Orani desde 1997. 
O novo cardeal, que o Diário acompanhou desde a sua nomeação em 1997 substituindo Dom José de Aquino Pereira, é homem de muito vigor físico e sempre deu conta de agendas carregadas. "Minha rotina não vai mudar nada, vai ser normal, mas toda vez que o Santo Padre me chamar, eu vou," disse ontem.
É de gente assim, disponível e entusiasmada, que Francisco precisa. "O Papa quer padres como Dom Orani nas Dioceses do mundo," afirmou Moioli. Completando o domingo, ele visitou as comunidades do Cantagalo e Pavãozinho e rezou no Corcovado em intenção da cidade do Rio, pedindo paz e caridade. 
Sua vida 
Caçula e temporão do casal Achille e Maria, o jovem Orani trabalhava num escritório em São José do Rio Pardo e fazia o colegial, mas um dia deu um estalo quando voltava da escola. Comunicou à mãe que ia ser padre. Dona Maria chorou dias e dias. O casal era muito católico e amoroso. 
Uma das irmãs dele conta que no quintal havia um pombal, mas no dia em que Orani foi para o mosteiro, elas sumiram para sempre. 
Foi ordenado na Congregação Cisterciense, teve atividade pastoral intensa nas paróquias de São Roque, elegeu-se prior e depois abade do mosteiro, cargo top. Em 1997, foi sagrado bispo em São José do Rio Pardo e veio para Rio Preto. 
Promovido a arcebispo sete anos depois, ele foi para Belém do Pará, mas vinha amiúde à cidade. Em 2009, foi transferido para o Rio de Janeiro. Em julho de 2013, recebeu o papa Francisco na Jornada Mundial da Juventude, e todos notaram a similitude com o pontífice, a mesma postura, os mesmos ideais. O mesmo Cristo.
Os sinais de Deus passeiam por toda parte 
"A impressão que se tem de Dom Orani é que ele é de todos. Ele se reparte, abre os braços, acolhe, abraça, dá uma chamada se for preciso, atende a todos sempre sorrindo. Consta que fui a primeira repórter a entrevistá-lo quando nomeado para Rio Preto. O que eu tinha dele era um foto em preto e branco, de um monge magrinho, de hábito, sorridente, braços estendidos para receber alguém. Liguei para ele no mosteiro, achando que não atenderia. Ele veio ao telefone, e do outro lado da linha senti sua alegria. “Vou para servir.” 
Chegou no dia 1º de maio de 1997. Antes de subir no caminhão do Corpo de Bombeiros para se apresentar à cidade, ele ficou sozinho, numa cidade estranha, no meio da praça da Basílica. Alguns passavam e cumprimentavam. Nenhum padre estava junto. De repente, os sinos da Basílica ressoaram, anunciando a chegada. Dezenas de pombas saíram em revoada brava, rodeando aquele padre de batina preta com debrum roxo, um cenário que faz lembrar o pombal de sua casa e as aves que foram embora quando ele entrou no mosteiro e nunca mais voltaram. 
Daí para frente, posso dizer que eu o persegui todos os dias do seu mandato. Nunca um ‘não’, uma resposta ríspida, cara feia, pauta sem cumprir, nem se esquivou das perguntas, mesmo em assuntos espinhosos da Diocese. Tem um vigor incrível. Entrevistei-o para o Perfil (10/8/1997), numa sexta-feira às 22 horas. Ele nem bocejava. E foi assim em inúmeras situações. Celebrava missa em Castores, à uma hora da madrugada, não faltou a compromissos diocesanos. 
Quando foi para Belém, entrevistei-o por celular. Ele estava no meio da invasão de uma capela por sem-teto. Achei que era brincadeira. Não era. Ele foi para um canto e respondeu calmamente o que eu queria. Noutra ocasião, peguei-o na visita a uma comunidade que mora em palafitas e estava um confusão. De novo, atendeu com serenidade. Dom Orani não é tímido, como se tem falado. Conciliador, sim. Um homem que faz a gente gostar mais da Igreja.”  (Escrito por diarioweb).

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