Escrito por Salomão Boaventura
Em março último, um grupo de ajuda mútua, preciosa ajuda, completou 20 anos de vida. É o Amor-Exigente. Em 1993, um grupo de cinco pessoas se uniu em Rio Preto com objetivo nobre: apoiar familiares de dependentes químicos, gente que sofre com a situação dos filhos e precisa de apoio também. A origem do programa está a quilômetros de distância. Na América do Norte, buscando uma luz no fim do túnel, um casal de psicólogos com duas filhas na dependência das drogas, se propôs a ajudar pais que passavam pela mesma situação. Nascia assim o Amor-Exigente (AE).
Foi no ano de 1984 que o programa chegou ao Brasil, por intermédio do padre Haroldo Rahms, um lutador da causa. Jesuíta, vindo dos Estados Unidos, pe. Haroldo pretendia aplicar os princípios nas famílias que tinham filhos internados na sua Comunidade Terapêutica Senhor Jesus, em Campinas.
Após alguns anos, em 1987, a coordenadora do movimento Mara Sílvia Carvalho de Menezes adaptou o conteúdo ao contexto brasileiro. O movimento cresceu e espalhou-se por todo o País, além da Argentina e Uruguai. A proposta é desestimular desde a primeira experimentação até ao uso de tabaco, álcool e outras drogas. É lutar contra tudo o que torna os jovens vulneráveis, expostos à violência, ao crime, aos acidentes de trânsito e à corrupção em todas as suas formas.
Quando o rio-pretense Anísio Gimenes e sua mulher Hermelinda Gimenes tiveram problema com dependência química na família, eles buscaram ajuda de todo lado. Assim que conheceram a proposta do Amor-Exigente, resolveram trazê-la para Rio Preto. O desejo de Anísio era ajudar, da mesma forma como foi ajudado. Para conhecer o trabalho do Amor-Exigente, o casal participou de encontros em outras cidades como Londrina e Araçatuba.
Após três anos de estudo e preparação, as sementes do Amor-Exigente em Rio Preto ficaram prontas para o plantio. Em 5 de janeiro de 1993, Anísio e Hermelinda fundaram o primeiro grupo do AE em Rio Preto, o Grupo de Apoio ao Toxicômano, Alcoolista e à Família (Gataf). Tudo começou em uma sala da paróquia Nossa Senhora de Fátima, no Jardim Nazareth. Ficaram 15 anos naquele espaço, realizando os atendimentos uma vez por semana. “No início, havia certa resistência, pois o dependente químico era visto como sem-caráter e bandido,” diz Anísio.
Com esse estigma, foi difícil superar o preconceito. Por causa de a proposta ser relacionada com dependência química, muitos católicos também relutavam.“No começo, falava-se que o grupo não ia à igreja para rezar. Muitas pessoas tinham receio e vergonha de buscar esse tipo de auxílio,” afirmou. Com o passar dos anos, os frutos começaram a ser colhidos. O Gataf cresceu e a partir dele surgiram outros dois grupos na cidade.
Há cinco anos, mudaram de local e estão na paróquia São João Batista e Santuário das Almas e paróquia Menino Jesus de Praga. Atualmente, em Rio Preto, há 58 voluntários que atuam em três grupos de apoio familiar, três grupos de apoio à recuperação de dependentes químicos e uma equipe de prevenção. A equipe já capacitou professores de dois projetos em Rio Preto para aplicar a proposta, semanalmente, em salas de aula, para crianças, adolescentes e jovens.
Muitos dos que foram ajudados, dentro do Amor-Exigente, passam a ajudar os outros. “Cerca de 90% deles tornam-se voluntários,” diz Anísio. Um exemplo disso é a voluntária E.F. “ No AE aprendi que a minha transformação pode servir de exemplo para outras mudanças, pois como dizemos toda semana: se eu não mudar, nada mudará,” afirma.
Todos os itens do programa estimulam os participantes a mudar seu caminho. “A frase: ‘hoje é o primeiro dia de minha nova vida’, me estimula a me dar a chance de começar outra vez, de fazer diferente, de fazer melhor, de me perdoar, de fazer-me abandonar as culpas e partir para a ação da mudança,” diz M.I.T, participante dos encontros.
A coordenadora regional do Amor-Exigente, Maria Izabel de Oliveira Massoni, afirma que no último trimestre os três grupos atenderam uma média de 1.100 pessoas, fora o público de palestras e sensibilizações realizadas pelos voluntários e pela regional.
A coordenadora ainda diz que, para o trabalho prosseguir, é necessária a ajuda da comunidade. “Em 2000, a Prefeitura cedeu ao programa um terreno para a construção da sede. Através de doações, rifas, pizzas e jantares, chegamos à fase de cobertura. Mas para prosseguir a construção, precisamos de doações e ajuda da comunidade,” afirmou Maria Izabel.
É possível libertar-se, sim
O envolvimento com as drogas trouxe péssimas consequências na vida de M.L.C, 36. Ele perdeu sua dignidade naquele tempo. “Ao envolver-me com drogas, perdi desde o emprego até mesmo o controle da minha vida,” diz M. Há 12 anos, ele procurou a paróquia que frequentava, onde conheceu o Amor-Exigente. No início, sua participação no grupo foi difícil. “Cheguei confuso, mas aos poucos, por volta do terceiro mês vi o significado do trabalho,” disse.
Sempre buscando cumprir as metas semanais do grupo, ele se esforça a cada dia para manter-se limpo. Considerando-se alguém que busca a sobriedade a cada dia, hoje M. é um dos frutos do trabalho do AE em Rio Preto. Tamanha força de vontade, há 7 anos, levou-o a se tornar voluntário. “Fiz cursos em Campinas com o padre Haroldo e hoje posso retribuir, com meu serviço, todo o bem que recebi,” afirma.
Hoje, com a vida completamente transformada, M. graduou-se no ensino superior, tornou-se gerente de uma empresa e já cursa sua segunda pós-graduação. “É possível se libertar das drogas, sim. Para isso, é preciso persistência e, a cada dia buscar conhecer a si mesmo e não ter medo de procurar ajuda,” finaliza.
Maria Izabel de Oliveira Massoni
(coordenadora regional do Amor-Exigente)
Fone:(17) 3225-5825
Email: belmassoni@superig.com.br
Anísio Gimenes
(fundador do Amor-Exigente em Rio Preto)
Fone: 3224-7195
Email: anisio01gimenes@globomail.com
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