segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Rubens Vieira Marques e o Dia Municipal do Catira


Rubens Vieira Marques, o Vieira, nasceu em Itajobi-SP, no dia 20/09/1926 e faleceu em São José do Rio Preto-SP no dia 09/10/2001. Rubião Vieira, o Vieirinha, nasceu no dia 26/08/1928 também em Itajobi-SP e faleceu em São Paulo-SP no dia 07/04/1991. Filhos de Maria Gabriela de Jesus, mãe cabocla, e Bernardino Vieira, imigrante português, influenciados pelos próprios pais e parentes, Rubens e Rubião, na época os "Irmãos Vieira", começaram compondo e cantando em festas de São João e também em reuniões familiares. E foi no ano de 1949 que aconteceu a primeira apresentação da dupla, a qual se deu na Rádio Tietê de Novo Horizonte-SP. Nessa época, montaram também a fábrica de instrumentos de corda. Após dois anos na Rádio Tietê, seguiram para a PRI-2, a Rádio Clube de Marília-SP, onde tiveram um programa exclusivo que fez parte da programação da emissora de 1950 a 1952. Rubens e Rubião partiram, com apenas 20 e 18 anos, respectivamente, para a Paulicéia Desvairada, firmes para o sucesso na cidade grande, com a bênção dos pais, os quais tiveram mais sete herdeiros, além de Vieira e Vieirinha. Participaram também de comícios para o Getúlio Vargas quando ele se candidatava à Presidência da República. É importante citar que, na época, esse tipo de campanha política não pagava cachê: caso Getúlio vencesse, como aconteceu, Vieira e Vieirinha tinham a promessa de poder cantar na Rádio Nacional, onde, com o resultado positivo, acabaram permanecendo por 22 anos. Foi nessa época, mais precisamente em 1953, que Rubens e Rubião assumiram os nomes artísticos de Vieira e Vieirinha, sugeridos pela já famosa dupla Tonico e Tinoco. E foi em abril desse mesmo ano que Vieira e Vieirinha gravaram seu primeiro disco, um 78 RPM com o cururu "O Canoeiro Não Morreu" (Teddy Vieira - Ado Benatti) e a moda de viola "Nova Londrina" (Teddy Vieira - Serrinha). Dentre as diversas emissoras onde atuaram, destaca-se a Rádio Bandeirantes, com a apresentação mensal no programa "Na Beira da Tuia" e também a TV Cultura de São Paulo-SP, no conceituadíssimo "Viola Minha Viola". Calcula-se que a dupla tenha gravado aproximadamente 50 LPs, além de diversos "bolachões" 78 RPM. Quero aqui dar um destaque ao CD "Dose Dupla - Vieira e Vieirinha" lançado em 1995 pela Warner Music e que é uma remasterização de dois antigos LPs dos Reis do Catira. Nas diversas faixas que compõe o CD, podemos ouvir exemplares bem característicos desse ritmo incluindo o som dos famosos sapateados sobre o tablado os quais fazem parte da dança. Apesar da música "Botão de Rosa" não constar no CD por problemas de cronometragem, o CD contém 23 belíssimas páginas bastante representativas da dupla Vieira e Vieirinha. Destaque para "Quatro Coisas" (Vieira - Vieirinha), que é a 19ª faixa do CD, composição bem humorada gravada originalmente pela dupla em Abril de 1976, e que também fez parte do LP incluso no fascículo especial "Música Sertaneja" da coleção "Música Popular Brasileira" lançada em 1982 pela Editora Abril. Esperamos que a Warner Music remasterize o mais breve possível em outras coletâneas não só o "Botão de Rosa" mas também as demais faixas as quais acabaram não constando em outros CD's "Dose Dupla" devido ao mesmo problema de cronometragem. Após o falecimento de Vieirinha, em 07/04/1991, Vieira praticamente "pendurou a Viola" e passou a se dedicar quase que exclusivamente à venda de instrumentos musicais em São José do Rio Preto-SP. E em 1996, Vieira formou com seu filho Ailton Estolano Vieira a dupla "Vieira e Vieira Júnior" que lançou o CD "Dona de Mim" pela gravadora Warner Music. Nos últimos anos, Rubens Vieira Marques, o Vieira, lutava contra o câncer no intestino que fatalmente o levou para o "andar de cima", em 09/10/2001. E é o próprio Vieira Júnior, o filho do Vieira, Ailton Estolano, no site da Revista Mundo Valente, que nos conta alguns aspectos da vida e da fama de um Grande Violeiro: "A viola representa alegria e tristeza ao mesmo tempo. Alegria por eu ter conseguido aprender a tocá-la, a viver no meio dela, e nosso pai ter conseguido criar a gente por meio dela. E tristeza, pelas dificuldades que trouxe pra nossa casa (...) A Viola não era reconhecida (...) Quando o nosso pai cantava, viajando por esse Brasil, na época em que chegou a gravar mais de setenta discos-elepês, ninguém dava valor (...) Quando o pai cantava com o tio, o Vieirinha, as pessoas mais ricas, ou remediadas, e que tinham condições, tinham vergonha de admitir que gostavam da Viola, de ser Caipira, de cantar Moda Caipira. Então não compravam os discos... Vendiam-se poucos discos naquela época. E pagavam quase nada por uma apresentação. Desprezavam a gente até no Grupo Escolar aqui da cidade (...) A gente, minha mãe, meu irmão... a gente sempre viveu sem dinheiro e no meio de preconceito. A gente não teve uma infância muito boa, não teve muita fartura lá em casa. Esse é mais um lado da tristeza que a Viola trouxe. Digo isso não por mim mesmo, mas pelo nosso pai, que já está velho e ainda precisa trabalhar aqui na loja, por necessidade. Ele não pôde dar uma infância gostosa pra gente, uma educação boa, propiciando à família o que achava que seria de bom". "Trabalhava muito, lutando, viajando de carro, de trem, jardineira e caminhão por esse Brasil, de ponta a ponta. Se expondo de tudo quanto é modo, campeando serviço. Era em praça pública, era em circo, era em quermesse, era em rádio, era em fazenda... era onde fosse chamado, ao preço de uns trocados. Eu e meu irmão, com saudade do pai; minha mãe, sentindo falta dele, se mordendo de ciúmes; e todos nós, dias e dias separados. O certo é que a vida ficou diferente depois que nosso pai e nossa mãe pegaram os trens da casa, no sítio, e foram viver na cidade, para facilitar os compromissos de cantorias do pai (...)" ."Mas a viola deu alegria também, no sentido de hoje a gente ver o pai, com 70 anos, benquisto, cheio de si, reconhecido na TV, com tese estudada em Universidade... todo mundo conhece, e foi através da Viola mesmo, e do catira, que o pai propiciou felicidade, com o Vieirinha, a tanta e tanta gente!!". A "Musicais Vieira", lamentavelmente, fechou as portas em 2001. Resta-nos preservar a Memória dos Reis da Catira e dar valor aos seus primos que continuam firmes "na estrada" defendendo e valorizando a Música Caipira Raiz!! 

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