terça-feira, 22 de julho de 2008

Florestan revolucionou a sociologia brasileira

Na universidade, Florestan inaugura uma nova fase de sua vida. Engajado nos estudos e na reflexão sobre a sociedade, aprofunda-se no pensamento de Émile Durkheim e dos demais pensadores da sociologia positivista. Como um intelectual orgânico, introduz no meio acadêmico um novo perfil intelectual, responsabilizando-se e engajando-se nos problemas da realidade social brasileira, sobretudo na militância em prol das pessoas de condições menos favorecidas. Na década de 1940, Florestan participava de um grupo marxista, no qual se dedicou ao estudo da obra de Marx e sofreu uma influência muito grande, principalmente sobre o pensamento dialético, pois isso o ajudou a entender melhor a dominação da sociedade burguesa e seus métodos expressos na realidade social. Aliando o rigor metodológico à pesquisa empírica, Florestan Fernandes funda a sociologia crítica no Brasil, inaugurando um novo estilo de pensar a realidade social. Para Florestan, o pensamento se pensa todo o tempo, pois a reflexão crítica deve ser sobre o pensamento e o pensado. O professor Florestan criticou a pedagogia tradicional e condenava a postura dos educadores distante do processo social, acreditando que estes deveriam estar engajados na tarefa de transformação social. Desta forma, tornou-se defensor permanente da escola pública, fazendo da Educação um dos temas centrais da sua vida. Para ele, não poderia existir estado ou sociedade democrática sem uma educação democrática via escola pública gratuita. Como bom marxista defendeu uma educação vinculada ao pensamento socialista. Para ele, a classe trabalhadora era a principal força revolucionária, e, portanto seus membros deveriam estar preparados, bem informados e conscientes de seu papel e isto seria uma responsabilidade da Educação. Portanto entendia a Educação como um fator de mudança social. As faces que marcam o professor Florestan Fernandes na educação são: a de professor, cientista, militante e publicista da educação, faces que ele manteve em outras práticas e que mostraram a coerência deste intelectual em toda sua trajetória de vida. Muitos educadores já estavam envolvidos na discussão e principalmente na criação de um projeto que, através do Estado-Educador, privilegiasse a educação escolarizada, tornando o acesso e a permanência cada vez maior nas classes mais baixas. Simultaneamente, estava em trâmite a aprovação da lei de Diretrizes da Educação Nacional, que com o apoio das elites, não suportavam essas propostas. É neste contexto que nasce a campanha em defesa da escola pública. Em torno de indignações, reuniram-se vários educadores em São Paulo e realizaram a I Convenção Estadual em Defesa da Escola Pública, donde saiu grande mobilização, dando origem a Campanha em Defesa da Escola Pública. Essa campanha conseguiu juntar diversos intelectuais além de outros segmentos da sociedade. No meio intelectual uniu uma diferente corrente do pensamento educacional: os liberais idealistas, os liberais pragmáticos e os socialistas. Nesta esta última corrente, encontravam-se Florestan, Darcy Ribeiro e Fernando Henrique Cardoso. Tendo a educação se apresentado como tema de grande relevância para o professor Florestan, sua atuação em defesa do tema se constitui em algo memorável. Além de sua atuação na campanha, podemos destacar a sua atuação na assembléia constituinte e no processo de construção da L.D.B. No processo de constituição da Lei de Diretrizes e Bases da Educação, Florestan Fernandes sofreu uma grande decepção com seu até então amigo Darcy Ribeiro, que o havia acompanhado na longa trajetória em defesa da educação. A maior injustiça de Darcy a Florestan é referente a sua frase: “Florestan não se inquieta com o milhão de alunos do proletariado estudantil, que pagam caro para estudar a noite, em escolas péssimas, montadas para fazer lucros empresariais, enganando-os. Abandona-os à sua sorte”. Florestan, que sempre lutou pelos menos favorecidos, que mobilizou diferentes segmentos para a construção de um projeto democrático e tentou incluir nas leis medidas que contemplassem a educação popular, encontrando resistências nas comissões foi traído e injustiçado por seu amigo. Darcy considerava, também, que o projeto da Câmara consolida o atual sistema de ensino e que continuará a manter o Brasil na condição do “... país que oferece a seu povo a pior educação”. Esse conflito vivido entre Florestan e Darcy Ribeiro foi aberto e ocupou espaço na mídia, persistindo até próximo dos últimos dias da vida do professor. Florestan Fernandes foi professor a vida toda e apesar de decorrentes internações hospitalares nos últimos anos de vida, o sociólogo não abriu mão do tom professoral e intelectual que o caracterizava. Florestan foi um dos maiores professores e sociólogos brasileiros por ser um dos grandes responsáveis pela consolidação do pensamento científico no estudo dos temas sociais no Brasil.

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