Basilina Pereira e seu ENCONTRO DE PRIMAVERA

PRIMEIRO LUGAR

Eu tinha os sonhos cheios de orvalho

e trazia na alma a inquietude da véspera

Tu surgiste com olhos de mistério

numa manhã que parecia eterna

e meu coração floriu, outra vez.

E em tarde de sonhos incertos

a vida madura se fez seresta

sem a nostalgia de uma infância tranqüila.

No ar, a ilusão de ser livre e amar.

Sem riscos? Sem culpa? Talvez.

O sol dissolveu o caminho das pedras

e o vento forte entrou nas crateras,

a maçã desabrochou sem pudores,

a sementeira florida embalou os ninhos

e a paixão perfeita rendeu-se à estupidez.

E entre flores poéticas e trigais maduros

a vida fez-se brisa e o amor, uma quimera.

Mas tu, como profético caçador de nuvens,

não viu fugir teu indomável corcel

no vendaval, que trouxe mágoas e aridez.

Hoje, a noite tem as mesmas estrelas

e em algum lugar, com certeza, é primavera.

Mas luzes douradas já não brilham no horizonte

e há uma fonte adormecida num jardim sem chuva

a espera do impacto de uma nuvem rosa e um talvez.