Falar com propriedade sobre o caipira não precisa ser, necessariamente, como muitos pensam, coisa de gente com mais 70 anos, ou baseada no conhecimento dos fatos importantes de um determinado período e em suas repercussões sociais. O escritor, artista plástico consagrado e membro da Academia Rio-pretense de Letras e Cultura (ARLC), Jocelino Soares, mostra como isso é possível no livro “Sentimento Caipira”. O título reúne uma série de artigos publicados por Soares aos domingos no Diário da Região. Com uma narrativa ágil e livre de complicações, a obra reúne 181 textos sobre o homem e as coisas do campo (o modo de viver caipira, sua culinária, seus sentimentos, prosas e causos). O autor traça um panorama do regionalismo sem conotação melodramática. Soares volta-se para sua infância pobre (ele morou na roça até os 22 anos), pondo em cena personagens típicos, a exemplo dos sertanejos. Leva a sério a função da literatura como documento, a ponto de reproduzir a linguagem característica daquela época. O livro tempera passagens com diversas histórias protagonizadas pelo inocente caipira. O escritor fala das belas paisagens, colheitas, do sabor da comida feita em fogão a lenha, banho de balde, de puxar água no poço, viver com animais, pegar fruta madura no pé, entre outras temas comuns para quem está acostumado a ver à noite o céu mais estrelado. De uma forma lúdica e muito rica em fatos, faço uma reconstituição em preto e branco de como eramos pobres, mas com muita dignidade. Éramos felizes e sabíamos disso.” O livro é indicado para todos os públicos, mas, segundo Soares, pessoas que viveram ou ouviram histórias sobre o campo vão se identificar mais. “Não sou um porta-voz, mas um escritor que resgata lembranças de tempos memoráveis.”
A ideia de reunir os textos publicados no Diário surgiu de um constante processo de reconhecimento dos leitores. “Vários recortavam e encadernavam os artigos.” Os elogios vêm sempre seguidos de mais curiosidade. “Alguns gostariam de saber sobre como era viver, por exemplo, sem energia elétrica.” Os textos foram produzidos e publicados no Diário entre 2007 e 2010. “Comecei a escrever incentivado pelo editor do Diário na época, o jornalista Milton Rodrigues. Era diretor da Casa de Cultura e já registrava o caipira e sua realidade em obras de arte.” O primeiro artigo falou publicado no jornal falava sobre a sua já conhecida “criação” de sacis. O texto buscava, segundo o autor, trabalhar o imaginário, resgatando do folclore brasileiro a imagem do Saci. “O que começou como um aventura continua até hoje.” O lançamento de “Sentimento Caipira”, pela THS Editora, está marcado para a próxima terça-feira, às 20 horas, no Rio Preto Automóvel Clube. A entrada é gratuita. O prefácio do livro é assinado por Milton Rodrigues e a apresentação, pelo escritor Romildo Sant’Anna. A capa reproduz um quadro chamado “Princesinha do Oeste”, um retrato de sua esposa, Deborah Soares. Jocelino Soares também é autor de “A Região da Boiadeira - O Noroeste Paulista”, sobre aspectos culturais, econômicos, sociais e turísticos que constituem a identidade cultural da região da Boiadeira. Está buscando recursos para o lançamento de “Jocelino Soares: Das Origens Caipiras ao Universo das Artes”. Sua história pode ser conhecida por meio de livros como “Jocelino Soares: vida, obra e crítica”, escrito por Mário Soler, e “Contando a arte de Jocelino Soares”, por Oscar D’ambrosio. O título de seu mais novo lançamento, “Sentimento Caipira”, é o mesmo de uma série de quadros criada por ele e que deu origem a uma exposição e de um espetáculo da Virtual Companhia de Dança inspirado na obra do artista. Sentimento Caipira (THS Editora, 184 páginas, R$ 30), de Jocelino Soares. Lançamento nesta terça, às 20 horas, no Automóvel Clube. Informações pelo (17) 3214-7211 (Escrito por Diarioweb).
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