quarta-feira, 19 de maio de 2010

Margarida Rosas e sua FALANDO DO OUTONO


Nunca vivi um dia sequer sem pensar na morte...
Caminho pelas ruas de minha cidade e vejo
pequenos animais mortos: passarinhos, formigas,
aranhas, lagartos verdes e marrons.
Um dia desses, vi um
sapo barriga de fogo, inchado e morto!
As plantas também morrem diariamente: as flores
murcham e caem de seus caules, as folhas amarelam
e caem no solo, e são levadas pelo vento.
Ligo a televisão e vejo os mortos
de um atentado no Afeganistão.
Nem sei onde fica esse país, mas vejo
sangue e morte por todo o chão!
Logo adiante nova notícia, bandidos e policiais em
tiroteio no Rio de Janeiro, menino morto com bala perdida...
Até as palavras, que tanto falam de amor
e dor, e amantes ardentes, nuvens no azul do céu,
também morrem quando falam em cemitérios,
almas penadas, tragédias e terremotos.
Nunca pensei na morte como uma passagem.
Mas o outono é uma passagem e é morte!
E é vento frio e madrugadas vazias.
Será que a dor que sinto intensamente em meu
peito antigo e frágil é a minha morte?
Será que morro nesse dia triste de setembro?
A morte mora em mim e sempre vivo no outono!


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