terça-feira, 26 de abril de 2016

Jary Mércio A. Pádua e O QUE PODE VIR DEPOIS



O que pode vir depois

Jary Mércio Almeida Pádua
Tudo contra os apologistas da tortura, os homofóbicos e essa gente mal-educada que acha chique xingar os outros em restaurante ou no meio da rua por causa de sua preferência ideológica ou ativismo político. Os devidos mecanismos da justiça devem ser acionados para enquadrar e punir exemplarmente esses criminosos e/ou cretinos. Responder a ofensas na base do cuspe, contudo, não é o exemplo que se pode esperar de lideranças políticas responsáveis ou de artistas famosos que acabam sendo formadores de opinião, especialmente neste momento de tanta intolerância entre as pessoas que defendem essa ou aquela posição com referência ao impeachment da presidente Dilma Roussef. 
Esses atos literalmente fisiológicos protagonizados, um deles, pelo respeitado deputado Jean Willys, outro, por certo ator de algum talento mas nem tão respeitado assim, me fazem voltar ao ano de 1977, no estádio Cícero Pompeu de Toledo, o Morumbi, após um jogo entre o meu Santos e o Corinthians de tanta gente. Na verdade, a lembrança é de algo acontecido já fora do estádio, num ônibus onde me encontrava – um dos muitos ônibus que deixavam as imediações do estádio transportando os torcedores do Santos. Do estacionamento e das ruas do lado oposto, partiam para o centro de São Paulo e para outros cantos da cidade os ônibus com os torcedores do Corinthians. 
No meu ônibus, apesar de ninguém estar especialmente contente com o empate de 1 x 1 do Santos de Ailton Lira e Nilton Batata contra o Corinthians de Vaguinho e Basílio, a turma cantava, urrava, bradava os palavrões de praxe, enfim, ia tudo na mais perfeita paz enquanto o coletivo seguia seu destino. Tal paz, contudo, não durou muito tempo: não mais que de repente, estavam ali, lado a lado, janelas a janelas, meu ônibus santista e um outro, apinhado de corintianos. Torcedores de ambos os coletivos botaram suas caras nas janelas e, sim, senhoras e senhores, isso mesmo que estão imaginando, começou uma batalha de cusparadas. Desnecessário descrever as cenas. Foi a primeira e última vez que estive num ônibus de torcedores, foi a primeira e última vez que vi uma batalha de cuspe. 
Como se sabe, o comportamento das torcidas de futebol evoluiu muito, principalmente o das torcidas organizadas. As cusparadas são prática obsoleta, trocadas que foram pelos paus e pedras e rojões e todo tipo de artefato que sirva para machucar e até mesmo para matar torcedores do time adversário ou quem quer que, inadvertidamente, passe por perto. Talvez alguém que nem goste de futebol. 
Não é que tudo tenha começado lá nas batalhas de cuspe, mas, sem passar por essa épica fase, as torcidas de futebol – ou os bandos que se escondem dentro delas – não teriam chegado ao atual estágio, tão sublime. 
Por isso, pede o bom senso que os cuspidores famosos do momento engulam a seco as ofensas recebidas e busquem responder em melhor nível aos ataques, pois não é bom que se continue a dar ideias desse tipo aos nervosinhos torcedores da política. Porque depois do cuspe podem vir as pedras, paus e, bem, vocês sabem.

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