Alaor dos Santos como todos o conhecem nasceu nas terras de São José do Rio Preto no dia 25/06/1960, foi editor da TV Globo Noroeste Paulista de 1989 a 1990; editor–chefe do nosso querido e saudoso Jornal A Notícia de 1985 a 1986; repórter e chefe de reportagem de 1982 a 1984; correspondente da TV Interior de 1983 a 1984; assessor de comunicação social, professor e coordenador do curso da Unirp de 1991 a 2001; assessor de comunicação da Associação Comercial de 1994 a 1996; redator da assessoria de comunicação da Fundação Cesgranrio, no Rio de Janeiro, de 1980 a 1981. Assessor especial da Secretaria Municipal da Cultura, foi nomeado curador do Museu Primitivista “José Antonio da Silva” e da Pinacoteca Municipal de 2005. Escreveu a biografia “Cascatinha e Inhana: uma história contada às falas e mídia”, além de centenas de artigos para A Notícia , Diário da Região, Revista Caros Amigos e Jornal Bom Dia Rio Preto. Formado em Propaganda e Publicidade pela Faculdade Augusto Motta, Rio de Janeiro em 1981 e em fotografia pelo Instituto Brasileiro de Arte Fotográfica , Rio de Janeiro, 1978, com especialização em Jornalismo Agrícola pela Escola de Comunicação e Artes (ECA), da USP, em 1985 e mestrado em Literatura Brasileira pela Unesp em 2002. A esse colega e amigo de tantos anos, amigo que nos enriquece com seus artigos toda quinta-feira na última pagina do Jornal Bom Dia, como este abaixo publicado no dia 24/04 e também com seus eventos ligados a Cultura de nossa querida cidade, parabéns e congratulações.
Vôo de anjo
Pela estrada afora eu vou bem sozinha. Os doces não são para a vovozinha. Foram comprados há pouco, no supermercado em que fomos. Não há perigo de diabetes, aquela doença do vovô. Não. Não haverá diabetes, nunca. Também não estou sozinha, há irmãozinhos. Esse aqui do lado chora. Ah! Os irmãozinhos! Opa, deixei cair um. O que é isso? Não, tapas não, tia. Ela não é minha tia. É a mulher do meu pai. Ih! Leram pra mim, na história, que é a madrasta. Madrasta igual aquela da Cinderela? Aquela é ruim, não é possível que também ganhei uma assim. Não queria esse presente. Pára, Anna, pai, paiêêê. Até ele, meu Deus? Foi sem querer, pai.Como essa gente fala coisas. Nossa, fala de gente grande, quanto mais importante ela é, parece que tem menos razão. Disseram pra eu não brigar com os irmãozinhos e brigam comigo? Disseram pra eu não tocar no irmãozinho, e me pegam assim, aos safanões. Me larga, tia. Ela não é minha tia. É madrasta. Isso agora não vem ao caso, está me machucando o braço. Ai, ela é forte demais pra mim. Parece a super-heroína da... pára, quem é do bem não bate assim. Será que eles são do mal? Não, não é possível, meu pai não é do mal. Eu quero a minha mãe. Eu quero a minha mãnhêêê. Cadê minha mãe? Por que ela me deixou aqui? Eu falei pra ela que a tia é brava comigo. Ela não é minha tia. É minha... aí, minha cabeça. Você cortou minha cabeça, tá saindo sangue, tia. Ela não é minha tia. Pra onde você vai me levar, pai, não quero ir ao médico. Não gosto de injeção. Ai, que tontura, pai, não estou vendo meu irmão.“Papai, papai... pára, pára, pai”. Quem está gritando? Não sei se sou eu ou meu irmão. Está tudo tão confuso. Não sabia que o mundo também rodava, igual à roda-gigante do Playcenter. Mas não é gostoso igual, dói. O quê ela está fazendo agora? Que é isso no meu pescoço? Ai. Assim fica apertado. Ai, dói, tia. Ela não é minha tia, mas não precisava me apertar assim, já disse que foi sem querer. Nossa, quanta coisa. Estou lembrando de tudo, tudo. Aquele dia em que eu fui passear no zoológico com a minha mãe. Tinha girafa, enorme. Ah, tinha um leão dorminhoco. Na missa, com a minha vó, a gente tem que ficar quietinha, senão ela fala “psiu”. Eu gosto da escolinha, só que tem uma menina lá, meio chata, mas de vez em quando ela brinca comigo de montar casinha. Eu prefiro o playstation, mas também gosto de algumas bonecas que ganhei no meu aniversário. Nossa, quanta coisa estou me lembrando, por que isso tudo? Esses minutos estão cheios de alma, como diz o vovô.Ufa! Meu pai chegou. Pai? Paiêê, por que você tá me pegando assim. Você é forte, pai. O que você vai fazer comigo? Não, pai. Ali é perigoso; você me disse que é perigoso. Não, pai, ali é a janela, é muito alto, pai. Eu não consigo te enxergar direito. Você está bravo? Está bravo comigo, pai? Pai, tô vendo um buraco na rede, não me põe nele não, pai. É muito alto, eu não sei voar. Pai, eu não sou super-heroína, se eu disse que era, era brincadeira minha, pai. Gozado, eu pensei que não sabia voar. Aqui nessa grama verdinha, onde pousei, sinto que sou um passarinho. Uma passarinha, né? Sou menina. Bom, vai ver que virei anjo, não sei direito.
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